O significado da Páscoa na Doutrina Espírita

Um anjo da morte visita o Egito e, para evitar as mortes dos primogênitos, os fiéis hebreus marcam com o sangue de um cordeiro a porta de entrada de suas casas

Foto ilustrativa: Pixabay

O significado da Páscoa na Doutrina Espírita

*Por Carlos Galetti

A cachoeira se apresenta como ápice de uma fonte viva, que percorrendo distâncias como rio, finaliza sua viagem em passagem de potência, revigoramento e beleza. Todos aqueles que se banham em semelhantes águas, renovam energias, experimentando sensações de vigor e refazimento.

O significado histórico da Páscoa, repousa raízes no Judaísmo, mas foi absorvido e alterado pelo mundo cristão.

Para os judeus, a Páscoa é a celebração que relembra a libertação do povo hebreu, após 400 anos de escravidão no Egito.

Já para os católicos cristãos, celebra-se a ressureição de Jesus após a crucificação. A celebração inicia-se no Domingo de Ramos e termina no Domingo de Páscoa, período compreendido como Semana Santa.

Todas essas decorrências estão plenas de significados, mas deitando nosso olhar para as primeiras origens desta celebração, vamos encontrar nas antigas tribos politeístas um tributo à primavera e à deusa da fertilidade “Eostre”. É a partir desta raiz histórica, que surge a relação da Páscoa com ovos (nos tempos modernos, de chocolate…) e com a lebre, ícone das festividades tribais, que marcavam a passagem do rigoroso inverno europeu para o período fértil da primavera.

No judaísmo a palavra Peseach, que significa “passagem”.

O vocábulo busca traduzir o ápice das pragas do Egito que atingiram as terras e os interesses do faraó do êxodo, no período de Moisés:
Um anjo da morte visita o Egito e, para evitar as mortes dos primogênitos, os fiéis hebreus marcam com o sangue de um cordeiro a porta de entrada de suas casas. Este era o sinal para que os filhos daquele lar fossem poupados da morte, e o anjo passava…

Uma outra tradição hebraica tem relação com o cordeiro no período da Páscoa: a família judaica acolhia por uma semana um cordeiro para viver com eles dentro de casa. Na convivência, estabeleciam-se vínculos afetivos e de sentimentos com o animal, e no entardecer da sexta-feira, este era sacrificado. Se alimentar do cordeiro da Páscoa era uma experiência de dor, de desilusão com vistas ao exercício da libertação, pela perda de alguém amado.

Neste aspecto, já caminhamos aqui, para uma inter-relação com uma simbologia mais próxima dos preceitos da Doutrina Espírita.

Lembremo-nos da última ceia de Jesus com os apóstolos.

(Mt 26:17-19; Mc 24:12-16 e Lc 22:14-23).

Jesus conviveu, aproximadamente, durante três anos com os discípulos. Durante a ceia pascal (tradição hebraica), Jesus se reúne com os apóstolos e diz: “Não mais beberei, a partir de agora, deste fruto da videira, até aquele dia em que beba convosco, (vinho) novo, no Reino de meu Pai” (Mt 26:29)

O Mestre se despedia dos 12 apóstolos. Ele dizia, um de vocês vai me entregar e trair. Estou me despedindo de vocês. Vou para o plano espiritual. Voltarei ao Pai. Vocês vão experienciar a dor da perda, e a crise da morte. Será um portal para que eu continue a amparar vocês e a cuidar da expansão do cristianismo.

E ecoando as derradeiras falas de Jesus e desdobrando seu simbolismo, a Doutrina Espírita, codificada por Allan Kardec, no século 19, vai emoldurar a essência e beleza da mensagem do Mestre, atestando ao mundo que a vida não cessa.

Que todos os cristãos espíritas possam, nesta Páscoa, se recordar de Jesus e celebrar em sua memória, o teor primeiro de sua missão: a libertação da escravidão da matéria, e o viver sem amarras com vistas a existência futura, no plano espiritual.

Não permitamos que os ovinhos de chocolate e os coelhinhos da Páscoa tirem a essência da celebração deste momento que é o profundo amor de Deus por nós e a imortalidade da alma.

Para os espíritas, a Páscoa propõe uma experiência de Deus. De amar e de sentir-se amado.

Cristo foi o cordeiro de Deus, se imolou por nós.
Na passagem da cruz se ungiu de sangue,
De perdão e misericórdia,
Para sinalizar o caminho,
A abertura das águas,
não mais vermelhas, do Mar Morto,
Apontando para a libertação e o consolo.
A celebração da vida.
A imortalidade da alma.

Carta de Paulo aos Gálatas; 2:20
“ Já não sou eu que vivo, mas é cristo que vive em mim. E a vida que agora tenho na carne, vivo-a na fé do Filho de Deus que me amou e a si mesmo se entregou por mim”

Boa Páscoa.
*Carlos A. M. Galetti é coronel da reserva do Exército, foi comandante do 34o Batalhão de Infantaria Motorizado. Atualmente é empresário no ramo de segurança, sendo sócio proprietário do Grupo Iguasseg. 

Vivendo em Foz já há mais de 20 anos, veio do Rio de Janeiro, sua terra natal, no ano de 1999, para assumir o comando do batalhão.

 

 

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