*Por Carlos Roberto de Oliveira
Acomodado em um cantinho de uma birosca agradável e se fazendo acompanhar de uma taça de conhaque, envolvida por completo na palma da mão, pausadamente, saboreava aquela bebida sugestiva e aromática.
Ante a curiosidade de muitos, embora sem se preocupar com isso, calma e igualmente preparava seu palheiro, não só porque o apreciava como, e principalmente, o espaço permitia fazê-lo.
Do ritual de sua preparação, lentamente ia picando o fumo de corda com um canivete, assim como faziam seus antepassados, distribuindo-o posteriormente na palha cuidadosamente cortada.
Das tragadas exaladas sentia-se o aroma do fumo cru no ar, o que provocava uma certa rejeição de um grupo que, gozando da mesma prerrogativa do espaço, igualmente fumava seus cigarros, só que de papel e, por isso, de forma maniqueísta se julgavam melhores, havendo até a conceituação de que o palheiro, além de fora de moda, pasme-se, faziam mal à saúde, não faltando quem, mais moderninho, e, portanto, mais condicionado, mencionasse o cigarro eletrônico e o narguilé como melhores opções.
Em defesa de seu palheiro, e pela superficialidade do conceito entre o bom e o ruim, ponderou, em seu direito de livre escolha, que essa dualidade não procedia, e lembrando Mario Quintana citou uma de suas frases em que dizia: “fumar é como uma forma de ir queimando as ilusões perdidas”, e finda a observação comentou: não se preocupem se o tabaco esteja acondicionado em palha ou papel, simplesmente fumem, pois já há patrulhamento demais tentando cercear o direito à liberdade.
Incontinenti, e como sugestão, igualmente se lembrou de um belo tango argentino que, em uma de suas estrofes, diz:
“Fumar es um placer, genial, sensual
Fumando espero a la que tanto quiero
Tras los cristales de alegres ventanales
Y mientras fumo mi vida no consumo
Porque flotando el humo me suelo adormecer…”
*Carlos Roberto de Oliveira é empresário do ramo de logística em Foz do Iguaçu.