OVNI* em Foz

Me despedi do ET, de quem já começara a gostar, o convidei a voltar outras vezes e fui pra casa dormir

Ilustração: Pixabay

OVNI* em Foz

(*Objeto Voador não Identificado)

*Por Carlos Galetti

Confesso que tinha tomado umas, mas tenho certeza do que vi. Vamos ao começo.

Vinha pela Avenida Paraná, pois tinha ido num aniversário lá na Vila A. Quando desço o tobogã para passar por baixo da 277, eis que vejo um objeto muito brilhante, luz até ofuscante, desenvolvendo certa velocidade, mas dando umas mancadas, tal qual um carro falhando por entupimento.

Nem titubeei, sacramentei que devia tratar-se de um OVNI, atendia perfeitamente às minhas preces, estava meio obscurecido nos últimos tempos, precisava de um furo de reportagem, algo que mexesse com o status quo, trazendo o reconhecimento que estaria raro nos últimos tempos.

Parei próximo a lombada, na direita, obedecendo as regras de trânsito, deixando o pisca alerta ligado, isso tudo apesar do trânsito estar calmo naquela avançada hora. Observando o OVNI, notei que o bruto, após manobras arriscadas e solertes, pousou no recuo da pista para manobra.

Acredito que o vivente estaria enguiçado, pois soltou enorme coluna de fumaça quando parou, ao que ainda pensei, vem lá da casa do cacete poluir aqui. Como estava cerca de vinte metros da nave, resolvi aguardar o desfecho, esperando o que iria suceder.

A fumaça que escondia o objeto havia se desvanecido, deixando à mostra uma porta bem grande, por onde imaginei, sairia um ET (extraterrestre) enorme, isto a julgar pelo tamanho da porta. E saiu, não parava de sair; não era grande, mas era muito gordo, se todo sujeito daquele planeta fosse assim, certamente o planeta seria o maior de qualquer sistema.

Ô, ô, ô… gordinho, vamos chamar assim, falou:

– Estou com um aparelho tradutor, pode falar que eu te entendo, aliás também leio pensamento, e gordo é o cacete.

Já fiquei sem graça, adivinhar é proibido.

O ET disse que vinha de outra galáxia, indo para o planeta que disse o nome, mas diante da emoção, nem lembro qual foi. Disse que fez uma escala aqui, pois sua aeronave estaria querendo enguiçar, perguntando se conhecia algum mecânico. Ao que informei que o mais próximo, certamente estaria dormindo, pois a esta altura, já teria tomado todas.

Democraticamente, me convenceu a levá-lo ao mecânico, mas como faríamos? Tinha a aeronave. Respondeu que não era problema, miniaturizando a nave, até dar no seu bolso. Falei, tá bom, e agora como faço pra levar você, com toda essa imensidão de tamanho?

Pensei, vamos criar problema e ele desiste. Entretanto, miniaturizou ele também. Entrou no carro e ficou esperando que eu partisse. Partimos para o Epaminondas, que felizmente morava nos fundos da oficina. Lá chegando, depois de muito custo, conseguimos acordar o sujeito, que acordou, ainda, alcoolizado, indagando quem era o gordão, recebendo como resposta que seria a sua mãe.

Abriu o motor, ao que ficou a vista uma alta tecnologia, a sorte era que o problema era fácil e visível, tratava-se de um pedaço pano que ficara sobre uma abertura do escape, o suficiente para entupir. Epaminondas ficou possesso, perguntou quem tinha deixado o pano lá, ao que o ET respondeu que teve a boa intenção de limpar o motor, levando esporro do mecânico.

Pazes feitas, todos entendidos, o ET pergunta quanto é, outro esporro do Epaminondas: nunca cobro dos meus amigos, você eu nem conheço, mas o Galetti é meu amigo de longas datas. Tudo por amizade.

Deixamos que o Epaminondas voltasse a dormir, me despedi do ET, de quem já começara a gostar, o convidei a voltar outras vezes e fui pra casa dormir.

Ô diazinho longo seu, tá na hora de recolher, mas acho que vale uma saideira no Beto… E esperar a volta do ET para fazer a reportagem.

*Carlos A. M. Galetti é coronel da reserva do Exército, foi comandante do 34o Batalhão de Infantaria Motorizado. Atualmente é empresário no ramo de segurança, sendo sócio proprietário do Grupo Iguasseg. 

Vivendo em Foz já há mais de 20 anos, veio do Rio de Janeiro, sua terra natal, no ano de 1999, para assumir o comando do batalhão.

 

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