Pai…

Quando foi para a segunda grande guerra não bebia e nem fumava, quando voltou o fazia inveteradamente

Foto ilustrativa: Pixabay

Pai…

*Por Carlos Galetti

Vai publicar uma semana depois, mas qual o problema, dia dos pais é todos os dias. Pai basta fechar os olhos e aparece nas nossas recordações, forte como quando era vivo, nos auferindo algum ensinamento.

Não os aproveitamos tanto quando aqui estavam, talvez por isso o amargor da ausência. Tanto para dividir com ele, mas agora já foi, sua falta é marcada pela saudade.

Enquanto buscava inspiração para escrever este texto, via a mesa em que meu pai sentava para ler os jornais do dia. O armário onde guardava o material para fazer a barba, onde eu filava seus cremes e giletes.

Meu pai tinha pouco estudo, mas muita cultura. Lia bastante, discutia qualquer assunto, gostava de documentário, interessado nos acontecimentos que o cercavam.

Era um cara popular, cantava Gardel, apelidava a todos, ajudava a muitos, jamais faltava a quem precisasse. Foi pobre e morreu pobre, seus valores intrínsecos foram os espirituais, que fez questão de nos passar.

Morreu aos cinquenta e nove anos por alcoolismo. Quando foi para a segunda grande guerra não bebia e nem fumava, quando voltou o fazia inveteradamente. Foi ferido na guerra, quase perdeu a perna, foi salvo em um hospital americano em Washington.

Quando voltou ao Brasil, depois de ser considerado morto pelos parentes que não tinham mais notícia, casou-se com minha mãe. Fruto desse casamento viemos eu e minha irmã. Minha mãe morre de câncer aos 33 anos. Depois de uma guerra e a viuvez precoce, só bebendo muito.

Apesar do pouco tempo de vida deixou a sua marca, o seu gosto pela boa música, coisa que certamente herdei dele; a sua paixão por cinema, gostava de contar os filmes e o fazia como ninguém.

Gostava tanto de Francisco Alves que o homenageava no dia de sua morte, dia 27 de setembro, durante 24 horas, foi a primeira “live” que vi, antes mesmo que existisse.

Era um cara popular, cantava Gardel, apelidava a todos, ajudava a muitos, jamais faltava a quem precisasse. Foi pobre e morreu pobre, seus valores intrínsecos foram os espirituais, que fez questão de nos passar.

Seu Alfredo era filho de uma família italiana, cujos pais chegaram a São Paulo no começo do século passado, somente a tia Leonor veio no bucho da minha avó e o tio Alécio viajou com 03 anos. Tio Domingos, meu pai e o tio Osvaldo já nasceram aqui.

Todos constituíram famílias dignas e honradas, deram frutos de onde surgiram novos frutos. Assim viveram e vivem os Galetti, uma saga de pessoas que honram suas famílias e os seus ascendentes e descendentes.

Não é que estou mais sério, esses dias nos fazem assim. Ficamos mais introspectivos, voltados para as coisas do passado, mais saudosos.

Numa certa fase da vida, meu pai precisava de mim para acompanhá-lo no mercado, coisa que fazia com prazer, pois, depois do mercado, sempre passávamos num bar para tomar uns chopes. Um dia me ofereceu um cigarro, mas eu só fumava escondido, pelo menos achava.

Passei a fumar na frente dele e nossos papos passaram a ser mais descontraídos. Sinto muita saudade daqueles tempos, foi triste a sua perda, mas sinto muito forte a sua presença, ainda mais quando ouço uma boa música, chego a virar para o lado e perguntar se gostou.

Fique em paz, estamos juntos.

*Carlos A. M. Galetti é coronel da reserva do Exército, foi comandante do 34o Batalhão de Infantaria Motorizado. Atualmente é empresário no ramo de segurança, sendo sócio proprietário do Grupo Iguasseg. 

Vivendo em Foz já há mais de 20 anos, veio do Rio de Janeiro, sua terra natal, no ano de 1999, para assumir o comando do batalhão.

 

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