Paraguai vai às urnas. Vença quem vencer, maior desafio será reduzir a pobreza

Efraín Alegre e Marito Abdo Benítez. Foto: ABC Color

Exatamente 4.260.816 paraguaios estão aptos a votar neste domingo, dos quais 884.927 são jovens de 18 a 24 anos e, destes, 311.679 votam pela primeira vez.

O sucessor de Horacio Cartes, segundo todas as pesquisas, deverá ser Mario Abdo, o Marito. Como curiosidade, ele é filho do secretário do ex-ditador Alfredo Stroessner. Faz parte da ala mais conservadora do Partido Colorado.

Caso dê “zebra”, pode ser eleito o segundo colocado nas pesquisas, Efraín Alegre, do Partido Liberal. Ele tem apoio da esquerda.

Mas, ganhe Marito ou ganhe Efraín, não se espera grandes mudanças na política econômica. Efraín promete apenas que será mais inclusiva. Marito promete cerrar fileiras contra a corrupção.

Mudar as bases da economia não é parte do plano de nenhum dos dois por um motivo simples: está dando certo. O Paraguai cresceu, nos últimos anos, enquanto seus vizinhos maiores, Brasil e Argentina, estacionavam ou andavam de ré.

Mas uma coisa é certa: quase todos concordam que há dois Paraguais, o que cresce e vê aumentar uma classe média cada vez mais endinheirada; e o Paraguai dos 26,4% da população na linha da pobreza, que ainda não se beneficiaram diretamente do chamado “milagre econômico”.

Tanto a BBC Mundo, na semana passada, quanto o El País, da Espanha, mandaram correspondentes para mostrar essas duas realidades do Paraguai. E ambas as reportagens que fizeram destacam o crescimento do país e a miséria que não se reduz.

Contrastes de Assunção, nas fotos de Santi Carneri, do El País.

El País, já no título da matéria, atesta: “Paraguai, o milagre silencioso e desigual”.

A abertura do texto compara dois cenários de Assunção. No coração do centro histórico da capital paraguaia, o bairro Chacarita, com ruas de barro e casas feitas de lata, que constantemente sofrem com as inundações, contrasta com os bairros modernos bem nas proximidades, habitados por uma classe média “que vem crescendo ininterruptamente há 15 anos”, diz o jornal.

Os pobres eram 50% da população, em 2003, e hoje representam pouco mais de um quarto, um número ainda elevado – no Brasil das desigualdades, estima-se que os pobres também representem pouco mais de 25%.

A “forte classe média” paraguaia, diz El País, é resultado do “fabuloso negócio da soja”, das maquilas que fabricam “produtos que o Brasil consome” e do mercado financeiro, “refúgio de capital para investimentos de argentinos e brasileiros que querem colocar seu dinheiro em um dos países mais estáveis da América, sem altos e baixos da inflação, com impostos muito baixos e um mercado de trabalho barato e sem conflito”.

E os pobres?

Embora a política econômica não deva mudar, seja quem for o eleito, cada um deles dedicou, ao menos na campanha, bom espaço para o assunto.

Marito, que não era o candidato preferido do presidente Horacio Cartes, diz que o atual governo desviou-se da “verdadeira doutrina do Partido Colorado”, em relação à assistência aos pobres. Chegou a dizer que os pobres “causam repulsa no presidente da República e seu governo”.

Efraín, o azarão do páreo, já prometeu que vai fazer com que a política econômica atinja também os pobres, mas sem alterar a essência dela, que nem mesmo o governo de esquerda de Fernando Lugo ousou mudar.

Mas o que ocorreu no Paraguai, nesses 15 anos, para que não se ouse mudar? O presidente do Banco Central, Carlos Fernández, faz uma comparação e elucida parte do segredo, na entrevista ao El País.

“O Paraguai mudou completamente. Na época da ditadura (de Stroessner), a economia se baseava em falsificação de produtos, contrabando, narcotráfico e tráfico de armas. Agora é completamente diferente. Há alguns anos fomos em muitas pessoas ao Brasil e lhes dissemos: continuem importando da China ou lhes oferecemos o Paraguai para que empresas brasileira produzam no Paraguai com um custo similar ou menor que na China. Há um imposto de 1% das maquilas. E tudo a poucos quilômetros de São Paulo. É o modelo mexicano. O Brasil é para a América Latina o que os Estados Unidos são para o mundo. Já são mais de 13 mil empregos nas maquilas e estão crescendo 50% ao ano”.

José Berea, presidente da Câmara de Exportadores de Cereais, conta outra história, com parceiro diferente e também com final feliz para o Paraguai. “Enquanto a Argentina punha obstáculos à indústria fluvial, aqui no Paraguai oferecemos impostos baixos, salários adequados ao mercado e hoje temos a terceira frota mundial de barcaças.”

Em outras palavras, os grandes dormiram e o Paraguai comeu pelas beiradas.

Pois o país vai às urnas. Que vença o que for melhor para nossos vizinhos.

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