PIB de Foz, a polêmica. Mansur reforça que não há motivos para festa

Phelipe Mansur: crescimento de Foz é “boa e má notícia”. Confira no texto.

Uma coisa é certa: em Foz do Iguaçu já não dá pra jogar números ao ar e esperar que todos aceitem passivamente. Até os números do confiável IBGE podem ter interpretações diferentes, dependendo de quem faz a análise.

O Não Viu? traz agora um artigo de Phelipe Mansur, coordenador no Oeste dos órgãos estaduais, que joga novas luzes sobre os dados do Produto Interno Bruto de Foz do Iguaçu em 2015.

Infelizmente, o programa de edição deste blog não é muito compatível com aquele em que Mansur criou os quadros, por isso foi preciso fazer uma adaptação – para pior, claro -, mas que certamente passará bem a ideia do que defende o autor.

ANÁLISE DO PIB 2015: NÃO HÁ MOTIVOS PARA FAZER FESTA

Phelipe Mansur

Ao longo das últimas semanas, vem ocorrendo um debate sobre a real situação da economia de nossa cidade. Eu, particularmente, dei minha contribuição afirmando que a cidade passa por crise e que precisa tomar medidas rigorosas para gerar mais empregos e melhorar a renda de nossa população. Outras lideranças da cidade, consideraram minha posição pessimista, pintando um quadro mais favorável sobre a economia iguaçuense.

Nos últimos dias, o tema voltou à tona, depois que o IBGE publicou os dados do PIB 2015. Diversos veículos da imprensa iguaçuense repercutiram a notícia, basicamente replicando as palavras de nota liberada pela Agência de Notícias da Prefeitura Municipal de Foz do Iguaçu ou apresentando planilha elaborada pela Folha de Londrina, apresentando manchetes positivas, mas sem fazer a devida análise, e em clima de comemoração pelo “bom resultado de Foz”.

Obs: Como o texto de Mansur é muito longo, apelamos ao Leia Mais. Clique abaixo e continue a leitura.

Algumas pessoas me procuraram, em tom de brincadeira, perguntando se eu tinha visto que o IBGE provou que eu estava errado e que Foz está crescendo. Para elas, eu respondi, como todo cidadão interessado pelo assunto e responsável deveria fazer, que iria estudar os números.

Como essas informações podem dar a entender que minha posição anterior foi refutada, me senti obrigado a analisar com o devido critério toda a série de dados divulgado pelo IBGE para julgar se minha opinião precisaria ser revista, e minha conclusão é que não. Os dados do IBGE apontam na mesma direção que eu e minha equipe indicamos nas últimas semanas.

Sabemos que todos têm esperança que a cidade vá bem, mas precisamos tomar cuidado com a empolgação e nos debruçarmos detalhadamente nesses dados. Economia não é futebol para que uma cidade tenha torcida apaixonada. Economia é uma ciência onde não deve existir lado, mas sim, fatos e dados.

Portanto, quando eu digo que não temos muitos motivos para comemorar, não estou torcendo contra a cidade. Estou apenas fazendo a análise criteriosa que outros formadores de opinião deveriam ter feito antes de repercutir conclusões falsas ou ao menos superficiais dos números do IBGE. Identificar problemas não é ser pessimista ou catastrófico, mas simplesmente é dar o primeiro passo para resolvê-los.

Os dados divulgados são de 2015, então não são o resultado de medidas da atual gestão da prefeitura ou de instituições e associações da sociedade civil. Quando analisamos esses dados não estamos fazendo críticas diretas à gestão atual da prefeitura. Reconhecemos inclusive que a prefeitura, através de suas secretarias de Turismo, Indústria e Comércio, e Projetos Estratégicos vem adotando medidas pontuais para destravar a economia do município, que torço para que surtam o efeito desejado.

Mas insistimos que Foz é uma cidade que não vive um ciclo econômico expressivo. O problema real de nossa economia (além dos conhecidos entraves burocráticos e alta carga tributária) é uma crise de ciclo econômico, que só se resolverá quando a cidade adotar medidas para implantar novas cadeias produtivas na região, além de atrair grandes investimentos para dinamizar as existentes.

Abaixo apresentaremos 6 notas técnicas que demonstram como a situação é diferente daquela repercutida pela mídia.

Faço também um convite: saiam pelos bairros e perguntem para a população se ela está satisfeita com o nosso mercado de trabalho e as oportunidades de emprego e renda que a cidade vem oferecendo. Perguntem para os pequenos e médios empresários da cidade se eles sentem essa crise que eu me refiro, ou se eles sentem que vivemos na cidade que mais cresce no Paraná.

Para aqueles que não tem gosto por analisar números, insistimos mais uma vez: nossa economia precisa de atenção especial para não perdermos atratividade para investidores e até mesmo moradores, pois as projeções de população apresentadas pelo IPardes demonstram que se nenhuma medida incisiva for tomada, Foz irá encolher nos próximos 20 anos. E sem apoio popular às medidas necessárias para retomar nosso desenvolvimento, as lideranças políticas que estão acomodadas irão demorar muito mais para agir, com consequências negativas para todos.

 

NOTAS TÉCNICAS:

  1. Por  que esses números são levemente diferentes daqueles que eu e minha equipe vínhamos apresentando em nossos artigos?

Em meus artigos anteriores, por decisão técnica, nós não utilizamos os valores do PIB do IBGE, e sim os dados do Valor Adicionado Fiscal (VAF), fornecidos pela Secretaria da Fazenda do Estado do Paraná e disponibilizados no portal do IPardes.

Optamos pelo VAF no lugar do PIB por três razões: 1) São dados da economia formal que, para a saúde financeira da cidade, é de fato o que interessa. 2) O IPardes fornece os dados do VAF segmentado em mais setores que os dados do IBGE, logo, permite análises mais detalhadas. 3) Como o VAF considera a economia formal, é um número muito mais preciso que o PIB que precisa fazer estimativas para determinar o tamanho da economia informal.

É de conhecimento público que Foz possui uma grande economia informal, então, é de se esperar que os números do VAF sejam levemente menos favoráveis à cidade que os do PIB. Então aqui pode se abrir margem de discussão sobre qual dos dois índices é o melhor para entender como funciona nossa economia.

  1. Quais os dados vamos usar na presente análise?

Mas para evitar discussões desnecessárias, na análise do presente artigo, utilizamos somente os dados do PIB fornecido pelo IBGE, tanto de 2015, que foi divulgado essa semana, quanto da série histórica disponibilizada pelo órgão no site: https://www.ibge.gov.br/estatisticas-novoportal/economicas/contas-nacionais/9088-produto-interno-bruto-dos-municipios.html?&t=resultados

  1. Foz é a cidade que mais cresce no Estado?

A Agência de Notícias da Prefeitura Municipal de Foz do Iguaçu publicou em sua manchete: “números do IBGE apontam crescimento de 24,53% na economia, o maior registrado no Estado”. Essa manchete é totalmente equivocada, seguramente foi escrita por alguém que não entende nada sobre economia e, por isso, é irresponsável, por ter vindo de um órgão oficial.

Em primeiro lugar, anunciar pela cidade que nossa economia é a que mais cresceu no Paraná, é uma ótima justificativa para não se fazer muita coisa e deixar tudo como está. O contrário do que eu e minha equipe defendemos.

Em segundo lugar, a planilha da Folha de Londrina (de onde foi tirado esse número de 24,53%) não fala em crescimento da economia, como o descuidado autor da nota fez entender, mas no crescimento da participação do PIB iguaçuense no PIB nacional, uma coisa diferente.

Em terceiro lugar, a supracitada planilha apresenta os resultados de somente 8 cidades. Seu autor não teve o cuidado de analisar o crescimento da participação das demais 391 cidades do Estado antes de escrever isso. Lamentável, vindo de um órgão oficial.

Abaixo, apresentamos tabela montada por nossa equipe, tendo por base os dados obtidos no site do IBGE.

 

Entre as 43 maiores cidades do Estado (todas as cidades com mais de 40 mil habitantes), Foz ficou em 35º lugar em termos de crescimento de sua economia, ou seja, ficou entre as que menos cresceram.

O crescimento real da cidade foi de 21,82% e anual de 2,86%. Se ampliarmos a análise para as cidades da região Oeste, por exemplo, todas as outras principais cidades tiveram resultados de crescimento econômico melhores que Foz: Marechal Cândido Rondon (6,48%), Medianeira (5,73%), Toledo (4,22%) e Cascavel (3,92%).

  1. A 6ª posição de Foz no PIB do Estado é algo a ser comemorado?

Quando repercutiram a notícia, os veículos de imprensa da cidade ressaltaram a 6ª posição da economia de Foz no cenário estadual, enfatizando que ela está na frente de Cascavel.

Essa informação é verdadeira: a posição da economia iguaçuense no ranking do PIB estadual em 2015 foi a 6ª. Mas é uma análise altamente superficial, que só serve para dar sensação de vitória perante uma rival regional.

Quem repercutiu os números dessa forma provavelmente não sabe dessas 3 informações: 1) Como o gráfico e a tabela abaixo claramente demonstram, as posições das cidades no PIB estadual variam de um ano para o outro. Logo, o que importa aqui não é comemorar a posição de um ano específico, mas sim, identificar as tendências e trajetórias, pois assim, notamos o que está acontecendo ao longo do tempo. 2) Foz está em 6º, mas entre 2002 e 2006 oscilou entre 4º e 5º, e depois disso passou a oscilar entre 6º e 7º (linha vermelha no gráfico). Desse modo fica claro que a cidade perde representatividade na economia do estado, e não o contrário. 3) Essa comemoração sobre Cascavel é mais um equívoco, pois ao contrário de Foz, Cascavel vem subindo posições: entre 2002 e 2011, oscilou entre 8º e 9º, em 2014, pela primeira vez, apareceu em 6º e ficou na frente, inclusive de Foz (linha marrom no gráfico). Então, enquanto nossa tendência é de enfraquecimento, a deles é de fortalecimento.

  1. Mas e esse crescimento na participação de Foz, não é boa notícia?

Sim e não. Sim, porque apresentar um crescimento sempre é melhor que o contrário. Mas não chega a ser uma boa notícia se compreendermos o número dentro do panorama global.

A planilha da Folha de Londrina apresentou somente a evolução da participação dos municípios entre 2010 e 2015. E esse é o principal detalhe para entender a distorção da conclusão obtida a partir desses dados.

Se analisarmos os números desde 2002, por exemplo, veremos que ao longo das duas últimas décadas, a economia de Foz vem perdendo gradualmente participação. De um ano para o outro, esses números mudam, mas a tendência geral é de queda na participação de Foz no PIB nacional, como a tabela e o gráfico abaixo claramente demonstram.

 

E como 2010 foi praticamente o ponto mais baixo desse gráfico de Foz (0,16%), praticamente qualquer outro ano comparado com ele representaria em crescimento. Se compararmos os números de 2015 com outros anos anteriores (antes de 2009), estaríamos falando de estagnação ou redução da participação, e não o contrário. Em 2015, nossa participação ficou em 0,20%, mas entre 2002 e 2007 oscilou entre 0,24% e 0,21% (o que representa uma redução de quase 20%).

Logo, essa análise e a consequente comemoração de um suposto “crescimento” de nossa economia são falsos. Foz não está aumentando a sua participação no PIB nacional. Evidentemente que o ano de 2015 representou um aumento em comparação ao período entre 2010 e 2014 (o que é uma notícia melhor do que uma redução), mas precisamos entender o que causou esse crescimento antes de comemorar.

E a redução da participação de nossa economia não está ocorrendo apenas no âmbito nacional, mas também no estadual e regional.

6. O que fez Foz crescer nesse ano de 2015?

Se o crescimento de Foz em 2015 fosse o fruto da dinamização de sua atividade econômica, seria algo digno de comemoração, mas os dados abaixo demonstram que apenas um terço dele veio de nossas empresas. O restante, foi simplesmente o aumento de faturamento de Itaipu.

A primeira tabela demonstra como se comportou cada setor da economia de Foz entre 2010 e 2015. Nela estão apresentados os valores do PIB por setor, ano a ano. Esse quadro demonstra claramente que quase a maior parte do crescimento de nosso PIB em 2015 foi resultado do aumento de faturamento de Itaipu (pois como Foz praticamente não tem outras indústrias, o item indústria dos dados do IBGE, basicamente, representa a produção da usina).

Ranking Nacional

Se ainda paira alguma dúvida sobre esses dados, abaixo montamos outros quadros, utilizando a mesma lógica do quadro feito pela Folha de Londrina, onde é apresentada a classificação de cada uma das 8 principais economias do Paraná no ranking nacional. Mas para entender melhor os detalhes dos números, dividimos o ranking por setor da economia.

Na agropecuária Foz não tem destaque, sendo que nesse grupo de cidades, a única do Paraná entre as melhores economias do país é Cascavel, na 29ª posição em 2015.

 

Como já dissemos, o setor indústria em Foz é basicamente Itaipu. Nesse item fica claro onde a cidade cresceu: entre 2010 e 2015, o faturamento da usina subiu consideravelmente, e gerou um ganho de participação para Foz no PIB da indústria brasileira levando a indústria de Foz da 52ª posição (em 2010) para a 29ª posição (em 2015).

 

O setor de serviços privados de Foz, onde está o turismo, não é expressivo em termos de participação. Inclusive, entre as 8 principais cidades do estado, é o que apresenta a menor participação, nos colocando na 108ª posição no ranking nacional. É verdade que nossa participação cresceu 16,52% entre 2010 e 2015 (nos levando da 122ª posição para a 108ª), mas esse crescimento é pequeno, em termos de representatividade, em comparação com o de Itaipu. Então, apesar de ter havido crescimento em nosso setor de serviços, ele ainda precisa melhorar muito para ter condições de ser o propulsor do desenvolvimento em nossa cidade. Vejam, por exemplo, como está o setor de serviços privados de Cascavel: 66ª posição. Em nossa cidade vizinha o setor de serviços privado é de fato o grande propulsor da economia local.

CONCLUSÃO

Os números e gráficos acima apresentados não deixam dúvidas: o comemorado crescimento da economia de Foz é frágil, pois depende prioritariamente da produção de Itaipu. E como mais de 60% de seu faturamento ainda é utilizado para pagar as dívidas de sua construção, seu lucro é de seus proprietários ou seja, ANEEL e Eletrobrás, muito pouco sendo revertido para a população, e gera menos de 2000 empregos em nossa cidade, Itaipu não deveria ser considerada no momento de se avaliar o desenvolvimento da economia de nosso município.

O desenvolvimento que devemos buscar é aquele vindo do setor privado, de nossas empresas. Em breve iremos divulgar uma análise, em separado, do nosso setor privado, para ampliar o entendimento dessa questão.

Não adianta nos confortarmos diante dos números da cidade que são camuflados pela enorme produção de Itaipu, enquanto as famílias em nossa cidade estão sem boas perspectivas de emprego e renda.

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