O iguaçuense foge do transporte coletivo como o diabo foge da cruz. Pra isso, compra carro, nem que seja bem velhinho, compra moto, nem que seja de placa paraguaia, pega carona ou vai de bicicleta. Só em último caso vai de “busão”.
Há vários motivos pra isso: o ônibus demora demais, não atende todas as regiões, não oferece nem um arzinho condicionado, há falta de segurança no interior dos coletivos e os pontos, quando existem, são um horror.
É isso o que detectaram os profissionais que elaboraram o Plano de Mobilidade de Foz do Iguaçu – o Mobi Foz, desenvolvido pelo Parque Tecnológico Itaipu em parceria com a Prefeitura.
O Mobi Foz apresenta sugestões para nortear o município nos próximos anos, nas áreas de trânsito, acessibilidade, mobilidade e qualidade de vida das populações de fronteira e dos turistas que nos visitam, como diz a apresentação feita pelos representantes do PTI.
O Não Viu? já falou sobre o que o plano prevê para os ciclistas, que contarão com uma rede de ciclovias (confira em https://goo.gl/78HKPE). Hoje, vamos falar de transporte coletivo.
Situação atual
O Mobi Foz fez um diagnóstico do atual sistema de transporte coletivo, que compreende 42 linhas/itinerários. O serviço é feito pelo Consórcio Sorriso, que dispõe de uma frota de 162 ônibus.
Os estudos e pesquisas comprovaram que os maiores problemas do sistema são:
1 Roteiros com percursos muito longos
2 Insegurança dos usuários
3 Veículos com baixa qualidade na prestação de serviço
4 Passagens com alto valor
5 Tempo de espera muito longo em terminais
6 Fracos pontos de interligação entre as macrorregiões
7 Localização descentralizada do TTU em relação ao perímetro urbano do município
8 Acessibilidade
9 Não preferência de fluxo nos modais
10 Equipamentos de transporte coletivo de baixa qualidade
11 Poucos pontos de acesso ao transporte público
12 Não existência de linha executiva
13 Qualidade nos pontos de parada existentes
14 Qualidade das vias (pavimentação)
15 Sinalização horizontal e vertical
16 Não escalonamento de horários
Alguns desses itens precisam ser “traduzidos” da linguagem técnica. Como o 6, “Fracos pontos de interligação entre as macrorregiões”, que traduzido quer dizer que há poucas ligações diretas entre os bairros mais populosos.
O 7, “Localização descentralizada do TTU (Terminal de Transporte Urbano) em relação ao perímetro urbano o município”, analisa que o tempo de viagem entre a Vila C e o Carimã (só um exemplo) levaria um tempo muito menor se não fosse preciso fazer “escala” no TTU.
E o 9, “Não preferência de fluxo nos modais”, quer dizer simplesmente que os ônibus utilizam as mesmas vias de carros e motos, atrapalhando e sendo atrapalhados pelos outros meios de transporte.
Há ainda outros problemas observados, que incluem até mesmo o despreparo de motoristas e cobradores, a falta de pontos de ônibus decentes e a distância entre pontos, superior à recomendada, de 500 metros.
Outra falha gritante no transporte coletivo é ausência de climatização nos ônibus. No calor de Foz, obrigar as pessoas a embarcar em ônibus lotados e sem ar condicionado, beira quase a um crime!
Os pontos de ônibus, entre tantos defeitos já apontados, têm mais um: não estão preparados para atender pessoas portadoras de deficiências. O que é agravado pelo fato de que poucos ônibus são adaptados para atender esses iguaçuenses no direito básico de ir e vir.
Tudo isso – e mais um pouco – explica por que, entre 2010 e 2017, ao invés de aumentar, houve uma queda no número de passageiros, cuja soma chegaria a 4 milhões naquele período.
Interbairros
O Mobi Foz observa que um dos pontos positivos do transporte coletivo de Foz é a linha interbairros (320), que conecta os extremos dos bairros Três Lagoas, Vila C e Porto Meira, circulando a cidade.
Com seis percursos diários e mais um exclusivo aos domingos e feriados, a linha tem o defeito da demora até a chegada do ônibus. Além disso, o número de paradas aumenta o tempo dos percursos. “Contudo, não deixa de ser uma boa opção. Na maior parte das simulações percebem-se tempos de aproximadamente 49 minutos para se dirigir a bairros em extremos opostos da cidade”, diz o plano.
E as soluções?
O Plano de Mobilidade Urbana de Foz do Iguaçu apresenta alternativas, para serem implementadas até 2028, mas com algumas delas acontecendo já neste ou nos próximos dois anos.
A reestruturação e a reorganização das linhas de ônibus serão feitas até 2020, enquanto a implantação de linhas executivas está prevista no plano para o final de 2019.
Já as vias exclusivas para ônibus começariam a ser implantadas a partir do segundo semestre de 2020, com conclusão prevista para 2028.
Subterminais
Como os trajetos feitos via TTU provocam demora no tempo de percurso dos ônibus, a proposta do plano é criar subterminais em nove pontos estratégicos da cidade. É coisa pra prazo um pouco mais longo, mas está dentro da meta até 2028.
Faixas exclusivas
A Avenida JK é uma das principais avenidas de acesso norte-sul e recebe atenção especial no plano, que divide a JK em dois trechos.
Do viaduto até o Terminal de Transporte Urbano, a faixa exclusiva para o transporte público e turismo ficará ao lado do canteiro, com construção de recuos para criação de pontos de ônibus. As ciclovias deverão ser reformadas.
Já para o trecho que vai do Terminal de Transporte Urbano até a Avenida Jorge Schimmelpfeng, o plano propõe a reestruturação do canteiro central para comportar a implementação de ciclovia e para comportar a faixa exclusiva do transporte público e turismo, sem estrangular o fluxo dos demais veículos. A faixa que hoje é destinada a vagas de estacionamento será transformada em via de circulação.
Binários
O Mobi Foz prevê a implantação de sistemas binários de trânsito nos bairros Vila C, Três Lagoas e Três Bandeiras, no Morumbi, Vila Yolanda e Jardim Petrópolis, tanto para melhorar o fluxo do transporte coletivo como para o trânsito em geral.
Implantação de linha executiva
O plano prevê a criação de linhas executivas para atender a demanda turística e aos ramais de deslocamento com saídas e chegadas do aeroporto e rodoviária.
Com “veículos adaptados para locomoção de passageiros em condição de viagem”, serão duas linhas: da rodoviária ao TTU (e vice-versa) e do aeroporto ao TTU (e vice-versa).
Participação
Os autores do plano ressalvam que a execução das propostas dependerá, ainda mais, “da participação e vontade popular, afinal este instrumento faz parte do compromisso e meta administrativa municipal para os próximos 10 anos e a sociedade deve ser parceira neste avanço”.