“Poor Iguaçu”: as Cataratas mais belas perdem feio para as de Niagara

Até no detalhe, dá pra ver qual impacta mais.

Você vai encontrar aqui:
1. A crítica ao que não se faz para atrair mais turistas às Cataratas do Iguaçu
2. A dúvida sobre o número de visitantes nas Cataratas do Niagara

A comparação

As Cataratas do Iguaçu são muito mais belas que as do Niagara, certo?

Quem conhece as duas, sabe que não tem nem comparação o “nosso” espetáculo com o das quedas
d´água do Norte (binacionais como as do Iguaçu, as de lá se dividem entre o território dos Estados Unidos e o canadense).

Niagara. “Poor Niagara”, disse Eleanor Roosevelt quando conheceu as Cataratas do Iguaçu. Foto: Pixabay

Por que, então, as Cataratas do Iguaçu recebem por ano menos de 3 milhões de visitantes, enquanto os dois lados de Niagara atendem mais de 20 milhões? (atenção: vale ver, ali embaixo, como o número “deles” pode ser alto, mas não tanto como se divulga). E, entre os visitantes de Niagara, é só pesquisar no Google, vamos encontrar muitos brasileiros, que depois publicam a experiência em blogs e artigos em jornais.

Foz do Iguaçu e Puerto Iguazú fazem um bom trabalho de divulgação. Especialmente Foz, que, a partir de 2007, quando a gestão do turismo passou a ser integrada, ganhou muito em melhoria da imagem e tornou-se cada vez mais atrativa para os turistas brasileiros, principalmente.

Já imaginou se as “nossas” fossem tão divulgadas quanto as “deles”? Foto: Alexandre Marchetti

Aliás, os brasileiros e os argentinos, nos dois lados das Cataratas, são absolutíssima maioria entre os visitantes. Turistas de fora representam a minoria silenciosa e rara.

Mas Foz do Iguaçu, integrada ou não, é pequena para ter a força de divulgar aquele que, por vezes, é considerado o maior atrativo do Brasil (pelo menos na avaliação dos turistas que visitaram o Brasil, segundo o Trip Advisor. Mas, claro, é bobagem se iludir – com ou sem “guerra civil”, o Rio de Janeiro é o maior atrativo e a grande porta de entrada de estrangeiros no país).

 

Estado e país

O governo do Estado não trata as Cataratas do Iguaçu com a devida reverência. Falta entender que o retorno do turismo pode ser até maior do que atrair indústrias, por exemplo. E o investimento necessário – basicamente em divulgação – é relativamente baixo.

Do governo federal, então, o que se esperar? O Brasil investe pouco em divulgação e recebe em troca menos ainda do que investe. No ano passado, 6,6 milhões de estrangeiros visitaram o país, número inferior aos que foram fazer compras em Miami (mais de 7 milhões).

Em artigo publicado em novembro de 2016, a revista Superinteressante mostrou que não é só a distância que impede a vinda de turistas dos países ricos ao Brasil (veja em https://goo.gl/5L89gJ). A África do Sul, tão ou mais distante, recebe mais de 10 milhões de turistas estrangeiros. E a Tailândia, mais distante ainda pra eles, fechou 2015 com 28 milhões.

Só que esses países investem em turismo, em divulgação, em busca de espaços no mercado de viagens global. O Brasil, com uma das economias mais fechadas do mundo, é também um dos mais fechados para os visitantes estrangeiros.

O Peru

A Embratur investiu em divulgação e outros projetos do turismo brasileiro, em 2016, o equivalente a US$ 18 milhões. O México, que já recebe mais de 30 milhões de turistas estrangeiros, gasta mais de US$ 400 milhões por ano.

E o Peru, só em 2015, gastou mais de US$ 50 milhões. A Superinteressante mostrou que o Peru não gastou só em feiras, mas fez acordo com marcas para o país aparecer como fundo e chegou a fechar parceria com a Rede Globo para Machu Picchu aparecer numa novela, em 2013. Resultado: em poucos anos, o Peru saltou de 800 mil para 3,5 milhões de visitantes.

O Brasil gastou muito, sim: com a Copa do Mundo, com as Olimpíadas. Mas isso não se reverteu em atração de turistas. Ao contrário, desgastou a imagem do país, porque o investimento foi contaminado pela corrupção e, até mesmo, pela derrota vergonhosa do Brasil ante a Alemanha, no caso da Copa.

Despreparo

Mas não é só o governo que peca. A Superinteressante lembra que agências de turismo especializadas em destinos brasileiros não têm sites em inglês, muitos hotéis e pousadas não estão presentes nas ferramentas de reservas globais, como o Booking.com, os horários de balsas e ônibus não constam na internet.

E mais: para atender bem os visitantes, é preciso que guias, garçons e taxistas tenham ao menos rudimentos do inglês. Nem é preciso falar bem, como lembra a revista, porque isso não acontece nem nos países mais visitados, como Itália, Cina e Tailândia. Mas, não conhecer nada além do português, é matar o turismo.

No caso de Foz, parece que ainda falta preparar muitos profissionais para receber os turistas estrangeiros. Nos hotéis de luxo, há até poliglotas no atendimento, mas os táxis, restaurantes e os serviços em geral ainda pecam.

O visto

Falta, também,  ao Brasil, ser mais inteligente:  exigir visto de turistas dos Estados Unidos, para só destacar o país que disputa com a China o título de o que mais envia visitantes ao mundo inteiro, é sintoma de burrice aguda. “É reciprocidade”, dizem os diplomatas. Afinal, os Estados Unidos exigem.

Ok, mas os Estados Unidos recebem mais de 70 milhões de turistas por ano. Ou dez vezes mais que o Brasil.

Os números de Niagara

Uma curiosidade é saber quantos são, de fato, os turistas que visitam as Cataratas do Niagara. Claro que o número é muito maior do que os que visitam as do Iguaçu, mas quantos são?

No lado canadense, seriam uns 12 milhões. E no lado americano, mais 8 ou 9 milhões. Será? Pois o jornal Niagara Gazette, em artigo de 2015, tentou chegar ao número correto. E constatou que o número depende de a quem se faz a pergunta. Os “8 milhões” normalmente propagados podem ser bem menos.

Um dos entrevistados pelo jornal faz um cálculo bem simples. Supondo que todos os 3.296 quartos dos hotéis da cidade tenham ocupação de 100% todos os dias do ano, o máximo que a cidade poderia acolher seriam 4,81 milhões de turistas.

Um número mais baixo do que este pode ser o mais perto da realidade, já que seria impossível ocupação total o ano inteiro, ainda mais que o grande período de visitação é a temporada quente. Poucos, proporcionalmente, vão ver Niagara coberto de gelo, embora seja de fato uma bela imagem.

O jornal não chegou a uma conclusão, depois de ouvir gente de hotel, do parque e até o prefeito (confira em https://goo.gl/Jt8tCB).

Ah, sim, o último número divulgado sobre a visitação em Niagara, nos dois lados, é de 22,5 milhões de turistas. Quantos estrangeiros? Bom, se os americanos não sabem nem o total de visitantes…

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