A revista Forbes, dos Estados Unidos – a mais conceituada publicação de negócios do mundo -, traz na edição de 28 de fevereiro uma extensa análise sobre o Paraguai, com o título “o novo líder emergente da América do Sul”.
A matéria faz um Raio-X do país, para explicar por que, hoje, o Paraguai supera o Brasil e a Argentina na confiança de investidores internacionais. E como o pequeno país, vizinho dessas duas potências econômicas, tem hoje um crescimento sustentável, isto é, praticamente imune às crises eventuais.
Qual é o segredo do Paraguai, para conseguir o que parecia impossível? Segundo a Forbes, o país soube escapar da armadilha de depender exclusivamente da exportação de commodities (soja e carne, entre outras) e, nos últimos anos, reduziu os níveis de pobreza, aumentou a prosperidade e se tornou um líder regional.
A Forbes diz que na vanguarda desta transformaçao está o presidente Cartes, que assumiu o cargo em 2013 e “inaugurou uma nova era de sucesso econômico paraguaio”, modernizando a economia e “empurrando o Paraguai para o cenário mundial”. Nada mal, hein?
As medidas que o governo adotou, a partir do Plano Nacional de Desenvolvimento 2014-2030, “focado na redução da pobreza, no desenvolvimento social, no crescimento econômico inclusivo e na inserção do Paraguai na economia global”, incluíram maior transparência do governo e mais responsabilidade fiscal, “em uma tentativa séria de combater a corrupção e a ineficiência do setor público”.
A isso se somaram o cuidado com a inflação e a criação de um conselho consultivo fiscal. O Paraguai obteve como resultados a estabilidade nos preços e no câmbio e sua dívida pública consolidada ficou em 22% do PIB, um dos mais baixos índices da região.
Grau de investimento
Obviamente, os investidores sempre estão atentos aos países de economia estável. E as agências de risco melhoraram as notas do Paraguai, que ainda este ano deve atingir o grau de investimento (que o Brasil já teve e perdeu).
Pra chegar a isso, o que é considerado “a chave para o sucesso do governo Cartes” pela Forbes, o Paraguai conseguiu diversificar sua base econômica, antes fortemente dependente de exportações agrícolas e de eletricidade (pelas participações em Itaipu e Yacyretá).
Até 2012, a agricultura representava quase um quarto do PIB paraguaio, enquanto a indústria e a construção civil respondiam por pouco mais de 6%. Hoje, o agronegócio gera 15% do PIB, e a indústria e a construção cresceram para 20%, de acordo com a ministra das Finanças, Lea Gimenez.
O que fez a construção civil aumentar sua participação foi, principalmente, o quadro regulatório criado pelo governo Cartes para encorajar as parcerias público-privadas, como um caminho para enfrentar o déficit de infra-estrutura do país, incentivando ainda mais o investimento no setor.
Cartes, prossegue a Forbes, aplicou no governo uma visão empresarial, com uma equipe de ministros “altamente treinados para dirigir sua ambiciosa agenda, reduzindo o desperdício e aumentando a responsabilidade no governo”.
“Nós temos como meta a criação de emprego e melhores condições econômicas para todos os paraguaios. Mas, para fazer isso, o setor público tem que desempenhar seus deveres, assim como o setor privado. Eu acredito que, nesse sentido, estamos na vanguarda da região”, disse o presidente à Forbes.
Um dos meios de reduzir a pobreza foi o programa de habitação social, com a entrega de mais de 20 mil moradias e outras 10 mil para serem entregues até o final do governo Cartes.
Na educação, foram criadas bolsas de estudo para estudo de ciência e tecnologia nas melhores universidades do mundo. “Quando esses alunos entrarem na força de trabalho paraguaia, eles aplicarão sua inovação aos produtos e processos do país”, disse o presidente.
“China do Brasil”
Outro pilar da administração Cartes é seu apoio às fábricas conhecidas como “maquilas”. A lei de Maquila oferece condições competitivas para as empresas internacionais para montar seus produtos no Paraguai para exportação. Mais de 150 empresas operam no Paraguai sob a lei – 70% a partir de 2013 – produzindo de tudo, desde peças de automóveis até sapatos e brinquedos.
Lembra a Forbes que 60% dessas empresas são brasileiras. Isso porque “temos as condições mais competitivas para a fabricação na região, oferecendo energia competitiva, custos trabalhistas e impostos baixos e uma mão de obra jovem. Nós somos a China do Brasil”, diz o ministro de Indústria e Comércio, Gustavo Leite.
“Com incentivos convincentes, incluindo incentivos fiscais, repatriamento completo de capital e lucros, e direitos iguais para investidores estrangeiros e empresas locais, bem como uma posição estratégica no coração do Mercosul, o Paraguai está vendo uma onda de investimento estrangeiro de seus vizinhos, bem como de mais longe, Europa, América do Norte e Ásia”, diz a Forbes.
O especialista em negócios internacionais Hugo Berkemeyer, sócio da Berkemeyer Law Firm, diz que os clientes geralmente perguntam se o Paraguai é um país atraente para investimento, já que tem apenas 7 milhões de consumidores.
“É um mercado pequeno pelos padrões latino-americanos”, diz Berkemeyer. No entanto, ele lembra aos investidores que o mercado paraguaio se estende aos vizinhos Brasil e Argentina, que juntos somam 250 milhões de habitantes.
Ícone do novo Paraguai
Entre os investidores que o Paraguai atraiu, está o empresário guatemalteco Mario Lopez. Ele construiu em Assunção um complexo comercial, corporativo e hoteleiro, o Paseo La Galería. O investimento de US$ 300 milhões transformou-se num ícone do novo Paraguai.
Diz a Forbes que “o Paseo La Galería é o primeiro complexo de uso misto na capital do Paraguai, Assunção. Sua construção rápida, novos padrões de design, qualidade sem paralelo e elegância visual são um excelente exemplo do sucesso recente do Paraguai”.
O complexo conta com um um shopping, torres corporativas, um hotel e um centro de convenções. Seu estacionamento de alta tecnologia pode acomodar até 3.500 veículos. As áreas de entretenimento incluem salas de cinema e 14 restaurantes.
Na área de shopping, estão as primeiras marcas internacionais que se interessaram pelo Paraguai, como o Cinemark e a Zara.
Já as Torres del Paseo, um par de edifícios de 25 andares, abrigam as empresas internacionais e nacionais mais prestigiadas do país. Elevando-se de cada lado do shopping, cada torre oferece uma média de 780 metros quadrados de espaço por piso e um sistema de escritório modular, proporcionando uma flexibilidade imensa para o espaço de escritório corporativo.
Segundo a Forbes, “este empreendimento emblemático serve como um ícone e um catalisador para novos investimentos no Paraguai”.
A revista cita outros avanços no Paraguai, como a melhoria de acesso aos bancos, com uso de alta tecnologia. E informa que os bancos estão “ansiosos para trabalhar com investidores internacionais”, citando Beltran Macchi, presidente da Associação de Bancos: “O Paraguai é um país pequeno, mas acolhedor para estrangeiros, e aqui é muito mais fácil de fazer negócios do que nos seus vizinhos”.
Também cita o aumento do acesso de paraguaios à Internet, graças a investimentos principalmente da Tigo Paraguay, uma das marcas mais importantes e reconhecidas do país.
“A tecnologia é um acelerador de desenvolvimento”, diz José Perdomo, CEO da Tigo Paraguai. “Permitir que pessoas em áreas remotas se conectem à internet é como fornecer água ou eletricidade. Esta é a inclusão social, e é o que torna divertido trabalhar nas telecomunicações aqui. Trabalhar com telecomunicações nos países em desenvolvimento tem um impacto real”, afirma.