Seu Trindade e Dona Zula, ele beirando os 80 anos, ela um pouco mais nova, instalados em um determinado espaço que os permitia observar o movimento de vai e vem das pessoas na rua, e sem demonstrar qualquer intenção de bisbilhotice e muito menos preconceituosa, surpreenderam-se pelo inusitado, ou mesmo estranho, de uma situação que lhes chamou a atenção, causando a ambos, e de forma gratuita, uma certa preocupação, além daquelas em consequência da idade de cada um.
Isto porque, avistaram caminhando pela calçada dois casais, já na meia idade, cada um deles se fazendo acompanhar de um celular à mão e, curiosamente, não conversavam entre eles, mas interagiam, sabe-se lá com quem ou sobre o que, rindo ou até mesmo digitando algo naquele pequeno aparelho.
O mais intrigante, contudo, e até certo ponto mais incompreensível, estaria por vir.
Ao se despedirem, depois do indispensável tchau, pasme-se, pois era audível o que falavam, um casal ao se dirigir ao outro o fizeram com a observação de que não se esquecessem de ligar ou mandar uma mensagem, isto considerando que mal tinham se separado.
De forma cândida, Dona Zula vira-se para Seu Trindade e lhe diz: Eles só se comunicam através de ondas magnéticas?
No mesmo tom, calmamente, Seu Trindade responde: Zula, talvez não tenham o que conversar e tenham, no celular, um arrimo para combater algum tipo de carência.
É, Trindade, quanto mais avançamos, mais os caminhos se abrem aos nossos olhos, e, por isto, não há como não se lembrar de Clarice (Lispector) quando diz: “depois do medo vem o mundo”.
Zula, que tal mudarmos de assunto?
Só se for com um “Malbec”, disse marotamente Dona Zula.
Sem mais demora, retrucou Seu Trindade… Tim tim.
Por Carlos Roberto de Oliveira, empresário do ramo de logística em Foz do Iguaçu