Rede Intrigas (Parte I)

Meu alvo acaba de adentrar, chegou de forma descontraída, brincando com todos

Foto ilustrativa: Pixabay

Rede de Intrigas (Parte I)

*Carlos Galetti

Chego ao bar, mas não fui reconhecido. Estou com sobretudo, óculos escuros e chapéu Panamá da cor do sobretudo. Estou bem discreto, apesar de estar sofrendo sob aquele calor das tardes de Foz, hoje em torno dos 35 graus.

O atendente vem me atender e me olha deveras desconfiado. Apesar de relutar, acaba me inquirindo se quero algo, ao que respondo uma cerveja bem gelada. Procuro ser o mais natural, mas, mesmo assim, algumas pessoas me olham. Uso o sotaque característico da região, o “caipiral”.

Meu alvo acaba de adentrar, chegou de forma descontraída, brincando com todos, dando e recebendo cumprimentos, tratando todos de maneira cortês, um verdadeiro cavalheiro. Pensei, será que era esse o sujeito?

Permaneço mais um pouco observando, não captando nada de relevante. Resolvo ir até meu carro que está na outra rua, tirando aquela roupa e voltando trajado de forma normal.

Quando volto, como tenho um conhecido no grupo do elemento alvo, me aproximo dos ditos e cumprimento a todos, aguardando um convite para sentar. Vindo o convite, resolvo entabular papo com os demais, inclusive o meu alvo.

Falamos de trivialidades, de pessoas e assuntos diversos. Até que consigo travar um papo mais particular com o sujeito que investigo. Falamos sobre Foz, trabalho e coisas corriqueiras. Mas, de repente, no supetão, o sujeito me indaga, acho que já lhe vi de sobretudo e chapéu. Fico pasmo, me descomponho um instante, mas rapidamente volto ao normal.

Sua afirmação é rebatida por mim, dizendo que deve ter me confundido. Ao que, usando tom de voz que não dá para os outros ouvirem, corrige que deve ter se enganado. Ficando calado.

Passo a lhe interpelar sobre seu tipo de trabalho, respondendo trabalhar em Ciudad Del Este. Esclarece que vive em Foz, cruzando a ponte todos os dias, fala de amigos que traz de carona nas suas vindas.

Já sabia de seu relacionamento com uma de suas caronas, mulher casada, dona de loja no Paraguai, cujo marido vinha desconfiando de seu comportamento, mandando que eu investigasse. Continuamos com as trivialidades, até que me retirei, cumprimentando a todos, inclusive o meu alvo, Senhor Augusto.

Encontrei com Augusto mais duas vezes ao longo da semana, uma no Banco do Brasil do Paraguai e outra no bar onde o encontrara da primeira vez. Nessa segunda vez fez questão de entabular muito papo comigo, inclusive me convidando para uma festa no Country Paraguai.

Festa no Paraguai, desde que não seja com muito discurso, mania dos Hermanos, é festa boa, sendo normalmente patrocinada por empresários brasileiros com negócios em Ciudad Del Este. Realmente a festa estava muito boa, boa cozinha e excelente bebida.

Augusto faz questão de me apresentar a sua amiga, esposa do empresário, mulher lindíssima, que estava acompanhada de outra amiga, que esclareceu ser esposa do dono de uma loja vizinha da sua. Seu marido, muito coerente, que havia contratado meus serviços, comportou-se discretamente, não dando a mínima bandeira.

Augusto e sua “amiga” olhavam-se de forma bem discreta, mas não pude deixar de notar algum envolvimento. O problema foi a sua amiga, a da loja vizinha, cujo marido estava no evento, enquanto sua mulher não deixava de me dar mole, já me deixando em situação complicada.

Continua…

*Carlos A. M. Galetti é coronel da reserva do Exército, foi comandante do 34o Batalhão de Infantaria Motorizado. Atualmente é empresário no ramo de segurança, sendo sócio proprietário do Grupo Iguasseg. 

Vivendo em Foz já há mais de 20 anos, veio do Rio de Janeiro, sua terra natal, no ano de 1999, para assumir o comando do batalhão.

Sair da versão mobile