Retratação
*Por Carlos Roberto de Oliveira
Trazia no semblante um olhar distante, um tanto melancólico, porém harmonizado com sua necessidade de estar só.
Não estava preocupada em conceituar a solidão, se boa ou ruim, e sim de tão somente com ela conviver em uma tentativa de se encontrar consigo mesma, procurando fugir do rotineiro mundo lógico, cuja única preocupação é com a valorização da materialidade, sem qualquer preocupação com a afetividade, especialmente em uma realidade cuja tônica é determinada pela violência em que ódio passou, hipocritamente, a ser sinônimo de amor.
Sua busca era por algo mais voltado para seu interior, tendo como compromisso maior a recuperação de emoções e sentimentos, sem a influência do individualismo, valorizando mais a afeição., considerando inclusive sua fragilidade.
E, para isto, atitude se fazia necessária tomar, e atendo-se ao seu propósito quanto ao auto isolamento, renunciou a qualquer homenagem que a incluísse como merecedora de ser lembrada como mãe, e que ocorre em um dia específico do mês de maio, isto porque sempre estivera ausente como figura materna, o que atribuía à convivência social, em tempos passados, com escolhas erradas e inconsequentes e que muito contribuíram para torná-la refém da vulgaridade.
Nesta sua busca para dar um sentido outro à sua vida, que opção teria se não aquela de se retratar perante sua consciência, com a certeza de que era indispensável cumprir com uma exigência: a de tentar diminuir seu egoísmo para tentar criar raízes e, quem sabe, tornar-se uma mãe verdadeira, mesmo o filho sendo adotivo, o que justifica assim sua condição de uma mulher comprometida com valores até então pouco respeitados e que, seguramente, lhe servirão de arrimo para uma reciclagem que não fosse circunstancial.
Afinal, quando há intenção em se corrigir algo, sempre há tempo para fazê-lo, e a retratação é um instrumento para tanto.
Salve o Dia das Mães que, a rigor, são todos os dias.
Carlos Roberto de Oliveira é empresário do ramo de logística em Foz do Iguaçu