Sobre usar o transporte coletivo em Foz do Iguaçu

Resolvi compartilhar algumas opiniões depois que o motorista de um ônibus parado no sinal vermelho recusou o meu pedido de embarque

Foto: Christian Rizzi/PMFI.

Por Christina Loose- jornalista

Com os anos a gente aprende que para conhecer alguém é preciso conviver. Já para avaliar um produto ou um serviço, é preciso usar.

Há seis meses estou utilizando o transporte público de Foz do Iguaçu e nesse período venho conversando muito com outros usuários. As longas esperas nos pontos de ônibus (apesar de quase ter decorado a tabela com alguns horários) e durante as viagens rendem muitas resenhas.

Embarque – Resolvi compartilhar algumas opiniões depois que o motorista de um ônibus parado no sinal vermelho recusou o meu pedido de embarque. Ele já me conhece e meio sem graça fez sinal de negativo. Logo depois apontou para trás e pude entender que falou “F.I.S.C.A.L”.

Sim, o que eu fiz foi completamente errado, eu sei, mas duas coisas me deixaram curiosa: – O fiscal estava no coletivo como usuário ou a trabalho? – E se ele não estivesse ali, eu teria embarcado?

As respostas nem vêm ao caso, mas fico pensando como um fiscal trabalha e se as informações que ele coleta são reais e resultam em melhorias ou se “aquela perfeição” desaparece assim que ele desembarca. Numa visão pessimista (ou não) não seria muito mais produtivo colocar um “fiscal anônimo” circulando pelas linhas da cidade para verificar os acertos e as falhas? Acho que o “usuário oculto” relataria reclamações como as que seguem.

Mudanças nas rotas – Desde a mudança no transporte coletivo de Foz, os ônibus que saem dos bairros não passam mais pelo centro antes de ir ao Terminal (a não ser algumas exceções em horários específicos, quando passam pelo terminal e depois seguem até o centro sem que seja necessário fazer a “conexão”, numa viagem bem mais demorada).

A maioria segue direto para no TTU onde os usuários precisam descer e pegar outro ônibus para circular pelo centro. Além do desconforto de desembarcar, esperar, enfrentar nova fila e embarcar novamente, quem não tem o cartão do transporte é obrigado a pagar outra vez. Ou seja: o custo total é de R$10,00 apenas para ir ao centro ou para outro bairro.

Com o cartão da bilhetagem eletrônica o passageiro tem até noventa minutos para pegar um segundo coletivo em linhas diferentes, sem pagar a mais. Além do TTU, isso pode ser feito em qualquer ponto da cidade.

Comboios – Outra reclamação é com a distribuição dos horários. É comum estar em um ponto de ônibus e em questão de 10 minutos passarem dois ou três ônibus que seguem para a mesma região (embora os destinos finais sejam diferentes).

Quem perdeu espera a “próxima leva” e quem desce no meio do caminho sugere que os horários de partida sejam melhor intercalados para que os usuários tenham mais opções e não percam tanto tempo aguardando o coletivo. Além disso, com os “comboios” os ônibus que estão na frente seguem lotados e todos formam fila nos pontos.

Lotação – Ah.. a lotação! Acordar às 5h e enfrentar uma viagem de pouco mais de uma hora em pé, em um ônibus lotado, faz parte da realidade de muitos moradores da Gleba Guarani, por exemplo, que ainda têm pela frente um dia de trabalho e o mesmo “aperto” no retorno para as próprias casas.

Uma usuária dessa linha relatou que nos horários de pico os ônibus têm apenas uma fileira de assentos em cada lateral e um espaço maior, ao centro, para que mais usuários sejam transportados em pé, sem conforto algum. “Alguém acha isso certo? Por que não colocam mais carros e não distribuem melhor os horários?”, questiona ela.

Paradas – Se muitas vezes falta conforto nos ônibus, a estrutura para aguardar os coletivos é mais precária ainda, principalmente nos bairros mais afastados. Alguns pontos nem sinalizados estão, imagine uma cobertura e um lugar para sentar.

Não precisa ir longe. No centro da cidade é fácil encontrar pontos de ônibus abandonados, quebrados, sujos e sem informações para os usuários.

“Ah… mas tem o aplicativo”! Sim, mas muita gente não tem internet ou não sabe acessar, o que dificulta ainda mais.

E tem reclamações ainda quanto à disposição dos pontos de ônibus. Em alguns locais há pontos muito próximos e em outros, pontos mais distantes. Sem falar dos pontos que existiam há anos e que foram “retirados” dos locais tradicionais.

Ponto final – Além dessas reclamações pontuais, há ainda as mais gerais como a junção das linhas Campos do Iguaçu e Libra, por exemplo, a alta velocidade, as paradas bruscas, os passageiros mal-educados que não cedem lugar aos mais velhos e às gestantes, e eles…. os “motora”.

Alguns motoristas são mal-humorados e outros são muito descuidados. Entre os passageiros, ambos não são muito elogiados. Mas a grande maioria é atenciosa, educada e transmite segurança para quem está na viagem.

Apenas duas situações me deixaram assustada nesse período e ambas foram na hora do desembarque. Uma vez aconteceu com uma senhora e a segunda, mais recentemente, com um homem que aparentava ter problemas de visão. Eles estavam desembarcando e nas duas ocasiões o motorista quis seguir. Por sorte os gritos dos passageiros serviram de alerta e terminou tudo bem, apesar do susto.

Convite – Finalmente, como usuária, gostaria de entender por que mudaram as rotas, por que juntaram linhas, por que alteraram pontos de ônibus? Queria uma resposta que não tivesse a ver com o lado financeiro da operadora. Além disso, acredito que quem planeja o transporte público precisa conhecer e sentir o serviço, além de ouvir os usuários e os colaboradores. Sem essa vivência acho difícil colocar em prática um modelo que seja realmente funcional para os usuários. Então gestores do transporte, por favor, andem de ônibus!

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