Sonho maluco

Confesso que perdi o rumo, a garganta secou, os olhos marejaram, a respiração acelerou

Ilustração: Pixabay

Sonho maluco

*Por Carlos Galetti

Que coisa mais doida, de repente estou conversando com órgãos do corpo humano. Estou numa roda de participantes da conversa, estamos eu, o estômago, o coração, o fígado, a vesícula, o intestino, a próstata e outros que ainda não tinham se identificado.

O estômago se mostrava um tanto quanto ansioso, reclamava que seu possuinte o havia enchido de feijoada, daquela bem gordurosa, sendo uma desdita a digestão. Apregoava aos quatro ventos que deste jeito iria se pronunciar a respeito, dando um basta naquela situação.

Ao que o fígado complementou, concordo plenamente, sou participante do movimento, se precisar da minha ajuda estou dentro. Afinal, tenho sofrido as maiores agressões, estou cheio de gordura, a ponto de uma cirrose, e o bonitão só pensa em encher o pote.

O intestino não quis ficar de fora, complementou que vivia sofrendo as disfunções características daquele comportamento irresponsável. Disse não aguentar mais as constipações que assolavam aquele órgão, final de linha para todas as mazelas causadas pelo possuinte glutão e descontrolado.

O pobre do coração disse estar batendo muito fraco, pois não possui a mínima atenção. Disse que tem vontade de parar de repente para ver se consegue conscientizar aquele desmiolado, que só pensa em se divertir, sobrecarregando todos com seus exageros mundanos.

A próstata também resolveu se posicionar, afirmando que os constantes exageros já levaram ao seu acentuado crescimento, inflamação e outras deficiências funcionais. Disse que consulta nem pensar, dedada então, sem cogitação.

Diante de toda essa situação, pensei que esse possuinte estaria bem comprometido, com sua saúde necessitando providências urgentes. Pensei quem seria este infeliz, pensando em interferir, mas achando que não deveria.

Comecei a me perguntar o porquê de estar naquele interlóquio, como fora parar ali, qual seria o meu envolvimento? Olhei para o lado, notando que o coração era, ou parecia, o mais assentado. Então lhe perguntei quem seria o possuinte, ao que me respondeu sem pestanejar: – Você!

Confesso que perdi o rumo, a garganta secou, os olhos marejaram, a respiração acelerou, o coração apresentou arritmia, confesso que até a hemorroida deu o ar da graça.

Pensei, agora a vingança vem, todos vão falhar em conjunto. Comecei a suar frio, senti a vida se esvaindo, só restava gritar: – Ahhhhhhhhh!!

Minha mulher me acordou, conversou, me acalmou, voltei a dormir ou desmaiei.

No dia seguinte, domingo, acordei antes de todo mundo, fui para o quintal agradecer mais um dia, lembrar do mau sonho, e repensar a minha vida orgânica, afinal quem tem, tem medo.

Minha mulher acorda, fala do almoço, tinha a intenção de fazer uma feijoada. Pedi, melhor não, meu intestino não anda muito bom…

Carlos A. M. Galetti é coronel da reserva do Exército, foi comandante do 34o Batalhão de Infantaria Motorizado. Atualmente é empresário no ramo de segurança, sendo sócio proprietário do Grupo Iguasseg. 

Vivendo em Foz já há mais de 20 anos, veio do Rio de Janeiro, sua terra natal, no ano de 1999, para assumir o comando do batalhão.

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