Os taxistas de Assunção têm que aprender com seus colegas de Foz. Ao invés de brigar com o transporte por aplicativos, criar o seu próprio APP e dar descontos aos usuários. Se não, é guerra perdida.
Na sexta-feira, 14, os taxistas paraguaios fizeram uma ampla manifestação, concentrando-se no prédio da Justiça, em Assunção, para pedir medida cautelar que proíba a entrada do Uber e a operação do MUV, aplicativo criado localmente.
Agressividade
Não foi uma manifestação tão pacífica. Depois de “sitiar” a região do Palácio da Justiça, causando um “caos veicular”, como disse o jornal ABC Color, muitos taxistas começaram a agredir, verbal e fisicamente, os profissionais de imprensa que cobriam a manifestação.
Óscar Lovera, jornalista do Unicanal, foi o primeiro agredido. Os taxistas começaram a jogar água nele e a insultá-lo porque, em algum momento, falou mal deles em seu programa de tevê.
Jornalistas e fotógrafos sofreram empurrões e até pontapés, inclusive mulheres, chamadas de “porcas” por alguns e de “estúpidas”. Sem contar os palavrões.
Quer dizer, poderiam ter pelo menos conquistado a simpatia de parte da imprensa paraguaia, mas preferiram agir com ignorância, o que nunca dá bom resultado. Tanto que a agressividade ficou registrada em todos os meios de comunicação.
Mais clientes
Pior pra eles: enquanto se manifestavam, o MUV ganhava clientes e novos motoristas. Em apenas três horas, cerca de 5 mil usuários se inscreveram na plataforma e cem pessoas pediram para ser condutores (“muvers”).
A manifestação dos taxistas, nesse sentido, foi um tiro no pé. O MUV decidiu fazer viagens gratuitas das 6h às 9h, como resposta à medida de força dos taxistas. Exatamente 653 passageiros aproveitaram o benefício.
A juíza do caso decidiu não dar a medida cautelar ainda na sexta, optando por fazer uma reunião com as partes na segunda-feira (17).
Uma das fundadoras do MUV, Ximena Duré, ainda conseguiu um passageiro ilustre: o embaixador britânico no Paraguai, Matthew Hedges.
Ao jornal Última Hora, Duré disse que não havia recebido ainda a notificação judicial para a audiência, para que a empresa estará presente para explicar como funciona o sistema.
Não há proibição
Os criadores do MUV ratificam que têm amparo na Constituição Nacional para prestar o serviço de intermediação de transporte de passageiros e que, embora a atividade não esteja regulada, não está proibida.
A plataforma MUV foi lançada em junho deste ano, depois de vários meses de teste. Hoje, conta com aproximadamente 100 mil usuários cadastrados, que já fizeram pelo menos uma viagem, e quase mil motoristas.
Para ser muver, os motoristas precisam ter carro próprio, inscrever-se no Registro Único de Contribuinte, emitir fatura a cada translado e apresentar antecedentes policiais. Além disso, os carros têm que passar por inspeção.
Vereadores de Assunção apresentaram um projeto de regulação da atividade dos muvers, mas, pelo que pretendem, metade deles não poderia trabalhar, pois são exigências difíceis de cumprir por jovens empreendedores, disse Ximena Duré.
Uma delas, que ela qualificou de absurda, é que os veículos tenham menos de quatro anos de fabricação – isso, considerando que a maior parte da frota paraguaia é composta por carros usados comprados no Japão, principalmente.
Uber
Por enquanto, o MUV está sozinho na jogada. Mas a plataforma internacional Uber continua entrevistando potenciais motoristas em um hotel de Assunção.
As exigências do Uber são de que o pretendente tenha um carro de quatro ou cinco portas, com no máximo dez anos de uso. O motorista precisa ter licença de conduzir carro particular, certificado de inscrição no Registro Único de Contribuinte e talonário para emitir faturas, além de não ter antecedentes judiciais e contar com seguro de acidentes pessoais e de responsabilidade civil.
Fonte: jornais Última Hora e ABC Color
Atualização
O protesto de taxistas não foi só em Assunção. Em Ciudad del Este, informa o Vanguardia, os taxistas percorreram as principais ruas em caravana.
Eles reclamam que, com a vinda de aplicativos, cerca de 7 mil famílias seriam prejudicadas.
E disseram que não vão permitir que o transporte por aplicativos chegue à região.
O que impressiona, na informação divulgada pelo Vanguardia, é o número de táxis em operação em Ciudad del Este: 7 mil!
Em Curitiba, com o último aumento da frota de táxis, o número gira em torno de 3 mil, o que de fato abriu brechas para a atuação dos aplicativos sem grandes prejuízos para a categoria de taxistas.
Ou o número divulgado pelo jornal está errado – baseado nas informações passadas pelos sindicatos – ou realmente há um excesso de táxis numa cidade que, embora maior do que Foz, não chega a ter 300 mil habitantes.