Veja como reagiram os vizinhos à eleição de Bolsonaro

Foto: Tânia Regó\Agência Brasil

Não faltam e não faltarão, até a posse de Jair Bolsonaro na presidência, notícias e análises sobre o que a eleição dele representará para os países vizinhos. Muda tudo no relacionamento? Uma rápida leitura de jornais do Paraguai e da Argentina dá uma ideia de como o resultado da eleição foi percebido.

Tanto os jornais paraguaios como os argentinos destacam a surpreendente vitória de um candidato da extrema direita no Brasil, uma reviravolta completa na política do país.

A “inédita vitória da extrema direita (…) tem consequências imprevisíveis para o maior país da América Latina e para a região”, destaca o La Nación, da Argentina.

Há algum temor de que Bolsonaro, ao assumir, adote medidas protecionistas, pelo seu perfil nacionalista. Uma das preocupações foi gerada pela fala do provável ministro da Fazenda de Bolsonaro, Paulo Guedes, que ontem, logo após o anúncio da vitória, afirmou que o Mercosul “não será uma prioridade para o novo governo”.

 

O jornal argentino El Clarín entrevistou Paulo Guedes e confirmou que nem o Mercosul nem qualquer país vizinho será tratado como prioridade.

El Clarín insistiu se a relação com a Argentina não será prioridade e Guedes respondeu: “Não, não é prioridade a Argentina. O Mercosul tampouco é prioridade (…). Para nós, a prioridade é comercializar com todo o mundo”.

Mas o Clarín lembra que, quando conseguiu entrevistar Bolsonaro, durante a campanha, ele contou: “Falei há muito poucos dias com o presidente Macri. E garanti a ele que haverá uma relação excelente; será uma aliança ótima”.

Felicitaciones

Reprodução El Independiente Iguazú

Ainda no domingo, logo após a divulgação do resultado, o presidente da Argentina, Mauricio Macri, parabenizou pelo Twitter o presidente eleito Jair Bolsonaro e declarou: “Desejo que trabalhemos juntos pela relação entre nossos países e pelo bem-estar de argentinos e brasileiros”.

O Ministério de Relações Exteriores da Argentina, em nota oficial do governo, felicitou o presidente eleito e dizendo que as eleições “demonstram uma vez mais a fortaleza das instituições democráticas brasileiras”.

O presidente do Paraguai, Mario Abdo Benítez, segundo o jornal ABC Color, divulgou em sua conta no Twitter uma mensagem de parabéns a Bolsonaro e afirmou: “Queremos trabalhar juntos por democracias mais sólidas na região, com instituições fortalecidas e sempre buscando a prosperidade de nossos povos”.

Depois, em nota divulgada oficialmente, o governo paraguaio “reafirma seu compromisso de continuar trabalhando em favor do fortalecimento da relação bilateral e da concretização dos projetos conjuntos, em consonância com os laços históricos entre ambos os países, os valores compartilhados e a convergência de visões a nível regional e global”.

 

Alerta

O ABC Color traz um alerta do economista Amílcar Ferreira sobre as implicações da eleição de Bolsonaro na economia paraguaia, especialmente nas empresas que atuam sob o sistema de maquila.

No total, são 173 empresas brasileiras sob o regime de maquila no Paraguai, gerando 17 mil empregos e movimentando US$ 300 milhões anuais, lembra o ABC Color. O país que mais importa produtos das maquiladoras é justamente o Brasil, e o economista teme que o novo governo reveja essa política “beneplácita” com o Paraguai.

Ferreira também acredita que o governo Bolsonaro adotará medidas mais duras de controle das fronteiras, o que incluirá mais rigor contra a indústria de cigarros paraguaia, que hoje domina quase metade do mercado brasileiro (sem pagar impostos).

A Tabacalera del Este, destaca o ABC Color, que pertence ao ex-presidente Horacio Cartes, foi a segunda maior pagadora de impostos no Paraguai, no ano passado.

Na fronteira

O Diário Vanguardia, aqui de Ciudad del Este, diz que o encerramento do processo eleitoral no Brasil “devolverá a sensação de equilíbrio econômico, já que as crises políticas impactam necessariamente na economia”.

O jornal acredita que, com a volta de um período de calmaria, as cidades paraguaias de fronteira serão beneficiadas, “ainda mais nesta época em que começam as vendas de fim de ano”.

Apesar da preocupação com um possível protecionismo adotado pelo novo governo, isso “porá à prova a capacidade de negociação de nossos representantes”.

Nos jornais dos países vizinhos, curiosidade com a (bela) primeira dama.

O que inclui a revisão do Anexo C do Tratado de Itaipu. “O Paraguai deve estar atento e afinar bem sua artilharia para renegociar o Tratado de Itaipu, cuja revisão está cada vez mais próxima” (2023), diz o Vanguardia.

Muitas análises

Maior economia da América Latina, o Brasil foi destaque no mundo inteiro com a eleição do ultra-conservador Jair Bolsonaro.

Entre as análises, está o efeito que isso pode causar não só nas economias como também na política dos países da região, que têm agora dois exemplos distintos de candidatos vencedores nas últimas eleições: o esquerdista Andrés Manuel López Obrador, no México, e o ultra-direitista Jair Bolsonaro, no Brasil.

Há alguma similaridade na situação dos dois países: no México, a população estava cansada de governos de direita, que ficaram no poder por 90 anos seguidos; no Brasil, o “cansaço” era contra os governos de esquerda, embora estivessem no poder por bem menos tempo.

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