Vizinho

Às vezes, vale mais ficar na sua, deixe que as pessoas descubram, não se arvore em querer divulgar

Foto ilustrativa: Pixabay

Vizinho

*Por Carlos Galetti

Hoje estava lembrando, teve um tempo que eu frequentava o bairro de São Conrado, no Rio de Janeiro. É o bairro onde temos a Pedra Bonita, plataforma usada para o salto de Asas Deltas, esporte muito praticado naquelas paragens.

É local de boa praia, lugar de belíssima plástica, ponto intermediário entre Ipanema e Barra da Tijuca, mas, como nem tudo é perfeito, ali está o Morro da Rocinha, logradouro de bandidagem e violência.

Sendo assim temos três realidades, o entorno da Pedra Bonita, onde temos várias mansões, ricas e de beleza sem par, onde moram muitos artistas e famosos. Um pouco mais ao lado, avizinhando-se, temos a favela da Rocinha, com sua violência e mistura de todos os credos e raças.

E aqui embaixo temos o asfalto com seus arranha-céus, comércios variados; digamos o mundo real, com suas mazelas, seus óbices sociais, o caos do dia a dia.

Aqui, na parte real, onde todos passam, abriu um piano bar, onde ouvi uma das histórias mais interessantes que já constatei. Um dia um sujeito, comum e bastante normal, entrou, encostando-se no bar, ao lado de um outro cidadão. Pedindo ao garçom uma dose do mesmo whisky do seu vizinho.

Vira-se para o seu vizinho e diz:

– Veja amigo, somos iguais, mesmo ambiente, mesmo whisky.

Ao que o vizinho responde:

– Não somos iguais, está vendo aquela BMW lá fora estacionada? é minha.

O sujeito fica sem graça e se retira. Trabalhou, lutou, juntou dinheiro e comprou a sua BMW. Entrou no bar, pediu o whisky ao garçom, virou-se para o vizinho, que já estava um ano mais velho, e disse:

– Veja amigo, agora somos iguais, mesmo ambiente, mesmo whisky, BMW.

O outro foi taxativo:

– Não somos iguais, veja a louraça dentro da minha BMW.

O cara ficou possesso, retirou-se, foi na Playboy, conquistou uma louraça e voltou, um ano depois.

Entrou, pediu o whisky, deu uma balançada nas pedras de gelo, virou-se para o vizinho, já mais velho, e disse:

– Ai, amigo, agora somos iguais, mesmo ambiente, mesmo whisky, BMW e louraça.

Ao que o outro respondeu:

-Não meu amigo, não somos iguais, está vendo aquela mansão, a direita da Pedra Bonita? Ela é minha.

O sujeito retirou-se, trabalhou duro mais um ano, comprou a mansão do lado do sujeito que já se transformara em conhecido do bar.

Entrou no bar, pediu a dose de whisky, sacudiu as pedras de gelo, virou-se para o vizinho, mais velho e, que agora era vizinho mesmo e disse:

– Agora não tem jeito, somos iguais, mesmo ambiente, mesmo whisky, BMW, louraça e mansão na Serra da Pedra Bonita. Finalmente somos iguais.

Ao que o vizinho respondeu: – Não somos iguais, você é muito melhor que eu.

– Mas, por quê? – perguntou o interlocutor.

– Você nem imagina o vizinho chato que eu tenho.

Às vezes, vale mais ficar na sua, deixe que as pessoas descubram, não se arvore em querer divulgar.

*Carlos A. M. Galetti é coronel da reserva do Exército, foi comandante do 34o Batalhão de Infantaria Motorizado. Atualmente é empresário no ramo de segurança, sendo sócio proprietário do Grupo Iguasseg. 

Vivendo em Foz já há mais de 20 anos, veio do Rio de Janeiro, sua terra natal, no ano de 1999, para assumir o comando do batalhão.

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